Marii K.
14º Capítulo
O rosto do rapaz endureceu, deixou que se notassem as breves rugas de expressão, naquela face que parecia nunca ter sido tocada. Um face feita por anjos, uma face que Rose conhecia agora melhor.
Passou-lhe um pano molhado ao longo do que julgava ser um pequeno corte, mas o sobrolho ardia-lhe cada vez mais. Gemeu.
- Está a arder não está?
Rose não respondeu, ainda esperava que Tom lhe confirmasse o desejo de estar junto dela, continuava a acreditar na possibilidade de ser a sua mão a tocar-lhe no rosto, tão delicadamente como sempre. Fitava-o com atenção, completando a sua linha de raciocínio ao passar dos lábios cheios para os olhos cor de mel, o nariz mas direito do que anteriormente, faltava a curva empinada e adorável.
O curativo terminou, o rapaz voltou-lhe costas e dirigiu-se em passos apressados para uma caixa castanha. Voltou e colocou-lhe um penso, olhando-a nos olhos, tal como ela lhe fazia.
- Ele tratou-te mal?
Rose engoliu em seco, não sabia do que estava ele a falar, mas expressou um breve sorriso ao ouvir a sua voz.
- Onde estiveste? – Acabou por perguntar, com o mesmo sorriso. Ele suspirou e retornou a uma expressão séria, imperceptível a vários, mas Rose conhecia-a.
- Sou o Bill. – Disse ele fazendo uma pausa depois. – Queres contar o que te aconteceu? O Tom fez-te mal?
A Tenente esfregou os olhos, olhou à sua volta, procurando indícios de que o que se passava era novamente um sonho, falou atabalhoadamente:
- Tu és o Tom! O que te aconteceu? O que te fizeram?!
- Eu sou o Bill, Tenente.
- Não! Pára com isso!
- Tenente…
- Não me chames isso! – Interrompeu – Sou a Rose, a tua Rose! O que te fizeram Tom?!
Bill baixou o olhar, confuso. Seria possível que Tom se envolvesse até com o inimigo para vingar Julianne? Inspirou bem fundo e colocou a mão no ombro de Rose. Esta sobressaltou-se, abraçando-o de seguida, mas Bill quebrou o abraço rapidamente, tentando explicar tudo correctamente a esta pobre rapariga.
- Eu sabia que não me ias fazer isto Tom. Avec moi, ce soir! – Repetia as palavras de Tom, delirante.
- Eu sou o Bill. Sou o irmão do Tom, irmão gémeo. Sabes onde ele está?
Os olhos dela encheram-se de lágrimas, ouvindo aquela voz que agora distinguia mais aguda, renunciá-la, renunciar o seu amor. Estava a perder toda a força, a paixão, a entrega, estava a levar a melhor.
- Mas… Tu és, tão parecido, tu… - parou e limpou as lágrimas, endireitou-se na cama fazendo que as cordas nos pulsos apertassem mais. – Eu não sei onde ele está…
- Porque o procuras assim Rose?
- Porque eu… ele nunca me faz mal. Ele só…bem, ele é diferente, entendes?
Rose fechou os olhos e deixou-se levar pelas memórias da noite anterior, aquela noite perfeita. Teria sido na noite passada? Talvez já tivesse passado mais tempo. Limpou as lágrimas recompondo-se novamente.
- Eu não era assim. Eu era forte, eu não deixava que isto acontecesse. – disse segura. – Onde estou eu? Destruíram as tropas?
- Muita gente morreu, de facto. Não te posso revelar mais…
O coração acelerou, deixou que o queixo caísse e sentiu o estômago muito mais acima do que deveria estar. Parecia comprimir o seu coração, deixava-a sem fôlego. Esforçou-se por continuar a respirar.
Pegou nos seus braços e dirigiu-a por uma entrada perigosa na gruta, encostou-a a um canto e colocou-lhe pão e água à frente. Suspirou e olhou para trás, verificando que estavam sozinhos.
- O que me vão fazer? – Perguntou ela por entre os soluços.
- Não te sei dizer…
Ela fungou, engasgou-se e agarrou a garganta com as mãos.
- Não quero estar aqui! Não quero!
- Não te posso soltar… - murmurou o jovem médico.
- Não me quero soltar! Quero-o a ele! Quero morrer! – pressionou a garganta com mais força e bateu com os pés na parede bem próxima.
Bill arrancou as suas pequenas mãos da garganta e envolveu-lhe os braços, no que parecia ser um tímido, mas sentido abraço.
- Também não sei onde ele está… - chorou com ela, mais silencioso.