7º Capítulo
Tom perdia a noção do tempo naquele buraco onde estava enfiado. Sentia-se mais fraco do que nunca. Não conseguia sequer imaginar-se num espaço melhor, para tentar neutralizar aquele odor, aquela escuridão, e sobretudo aquela solidão.
Preferia sentir mil balas perfurar-lhe o coração, do que ver Rose na porta do armazém com o mesmo rosto duro e impávido. Transmitia-lhe tanta dor quanto a que sentia fisicamente. Podia dizer que sentia algo verdadeiro por aquela mulher, que era na verdade, praticamente desconhecida para a sua mente. O seu coração, esse sim a sabia de cor. Sabia cada fragmento da íris dos seus olhos, o sinal no canto do lábio, as madeixas do cabelo cor de chocolate.
A única coisa que lhe desejava ouvir era a voz verdadeira. Sem rouquidão, sem autoritarismo. A voz era já a única parte dela que transmitia o ódio que sentia por Tom. Os olhos, desde a primeira vez que ele lhe falara, ganharam um brilho próprio, como se já soubessem o que tinham a enfrentar.
Sentiu finalmente as mãos mais soltas.
Sorriu.
A Tenente há muito tinha desistido da ideia de usar um relógio. Puxou o rabo de cavalo mais para cima e olhou o sol. Previu facilmente que seria essa a hora a que Tom deveria ter sede, não bebia desde o dia anterior.
Os seus olhos procuraram o recruta mais fraco e mandou-o imediatamente encher um cantil de água e servir ao refém. O rapaz assentiu, obedientemente e entrou no armazém passados uns segundos, já com o cantil abastecido.
A brisa parecia ter finalmente chegado, aquele canto remoto do país. Rose sentiu-a fresca e pura como nunca. Fechou os olhos e imaginou os verões que passava a cavalo, quando o seu pai voltava das missões. Lembrava-se de como ele era diferente dela, os olhos azuis, contrastavam na face branca e o cabelo cor de cobre rapado bem curto, era livre para crescer naquela altura do ano.
Soltou o cabelo e deixou-o esvoaçar, como sempre o pai lhe fazia cada vez que montavam a cavalo.
“Deixa esse pequeno rio de chocolate voar…”
Sorriu.
- Tenente Mildred! O refém não está lá! – Interrompeu o jovem recruta.
- Como não está lá seu incompetente?!
- Não está! A cadeira está vazia e na cadeira está inscrito “mal feitos uma vez, mal feitos sempre”.
Rose fechou os olhos, olhou o rapaz mais uma vez e entrou no armazém, fechando a porta atrás de si com um estrondo.
- Kaulitz?
Estava encostada à superfície fria da porta, mas estava quente como nunca.
- Kaulitz? – Esperou um minuto certo para voltar a perguntar – Kaulitz?
- Kaulitz estás aí?
Ouviu pisar uma lata perto de si…
- Não… – ouviu a voz rouca.
A janela que deixava entrar luz foi tapada por um pedaço de cartão enorme, estava escuro como a noite.
- Kaulitz?
- Não!
Outro ruído, desta vez ela não o sabia distinguir, mas estava mais perto.
- Não… – repetiu a voz.
- Tom… – disse ela olhando o negro à sua volta.
Algo doce colou-se aos seus lábios. Mexiam-se avidamente, não a deixavam respirar. Tratava-se do mais doce beijo que havia sentido, a doce combinação de metal da adrenalina e um toque tão molhado e carinhoso de um beijo de paixão.
- Tom? – Voltou a perguntar, desta vez baixo, enquanto sentia a sua face rodeada por duas mãos.
- Sim Rose?